MPF abre inquérito para apurar possível discriminação religiosa em palco gospel no Réveillon do Rio


 
O Réveillon organizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro entrou no radar do Ministério Público Federal (MPF). O órgão instaurou um inquérito civil para investigar se houve discriminação religiosa na programação prevista para a virada de 2025, após denúncias de que as atrações no palc
o montado na Praia do Leme, na Zona Sul, estariam voltadas majoritariamente ao público gospel, em possível prejuízo a outras manifestações de fé e expressões culturais.

A apuração foi formalizada pelo procurador Jaime Mitropoulos, que converteu um procedimento preparatório em inquérito civil. O MPF solicitou esclarecimentos à Prefeitura do Rio de Janeiro sobre os critérios utilizados na escolha dos artistas e sobre a aplicação de recursos públicos nos eventos de fim de ano.

As discussões se intensificaram após críticas públicas do babalawô Ivanir dos Santos, que afirmou haver possível tratamento desigual entre religiões durante a virada do ano. Segundo ele, a ocupação do espaço público deve refletir diversidade e respeito às diferentes crenças.

O líder religioso ressaltou que a diversidade não pode permanecer apenas no discurso, mas deve se materializar em práticas concretas de reconhecimento e igualdade de oportunidades entre os diferentes grupos religiosos.

Diante da repercussão, o prefeito Eduardo Paes (PSD) se manifestou nas redes sociais no último domingo (28). Em tom crítico, afirmou enxergar preconceito nas críticas ao palco gospel e defendeu que o Réveillon de Copacabana é plural, contemplando diferentes estilos musicais e manifestações culturais e religiosas.

Paes declarou que a festa pertence a todos e que a música gospel tem o mesmo direito de ocupar espaços que outros gêneros, como samba, rock, frevo, piseiro e MPB, reforçando a ideia de convivência entre diferentes tradições.

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, também comentou o caso. Em publicação nas redes sociais, afirmou que religiões de matriz africana têm protagonismo em celebrações de Ano-Novo em diversas praias do país e classificou as críticas ao palco gospel como exemplo de preconceito religioso.

No inquérito, o MPF estabeleceu prazo até 21 de janeiro de 2026 para que a prefeitura apresente informações detalhadas sobre a programação e os critérios adotados. A data coincide com o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Para o mesmo dia, está prevista uma reunião entre representantes do município e entidades ligadas à defesa da liberdade religiosa e ao enfrentamento da intolerância.

O caso reabre o debate sobre laicidade do Estado, uso de recursos públicos e respeito à pluralidade religiosa no Brasil, especialmente em eventos de grande porte financiados pelo poder público.


📰 Da Redação / Chapada em Foco


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