A disputa pelas 54 cadeiras do Senado Federal que estarão em jogo em 2026 ganhou um novo componente político e jurídico após a decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu trechos da Lei do Impeachment de 1950. Embora parte da medida tenha sido ajustada após diálogo com o Senado, seus efeitos continuam repercutindo diretamente nas estratégias eleitorais, especialmente entre partidos de direita que vinham construindo campanhas centradas no discurso de destituição de ministros da Corte.
A cautelar de Gilmar atendeu às ADPFs 1259 e 1260, apresentadas pelo Solidariedade e pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), e segue agora para análise no plenário físico do STF.
Mudanças propostas e recuos
Inicialmente, o ministro havia determinado que apenas o procurador-geral da República poderia apresentar pedidos de impeachment de ministros do STF ao Senado — o que foi posteriormente revisto. No entanto, permanece válido o ponto mais sensível para o universo político: o aumento do quórum para admissão de processos de impeachment, que passou de maioria simples (41 votos) para dois terços dos senadores (54 votos).
“Estamos aplicando a Constituição. A lei de 1950 já não se adequa ao texto constitucional de 1988”, afirmou Gilmar.
A decisão foi defendida publicamente pelo ministro Flávio Dino, que citou os 81 pedidos de impeachment contra ministros do STF apresentados nos últimos anos como um elemento de instabilidade institucional.
Reações políticas: elogios, críticas e acusações de ‘golpe’
A medida provocou reações imediatas no Congresso. Parlamentares de direita e oposição acusaram Gilmar Mendes de interferir no papel fiscalizador do Senado e de “blindar” o STF. Já governistas — como o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias — classificaram a liminar como um “contragolpe preventivo”.
Segundo Lindbergh, há uma “articulação da extrema direita para formar maioria no Senado e destituir ministros do Supremo”. O parlamentar comparou a decisão ao episódio de 1955, quando o Marechal Lott interveio para garantir a posse de Juscelino Kubitschek.
Do outro lado, líderes de oposição como o senador Jorge Seif (PL-SC) afirmam que a decisão “antecipa o resultado eleitoral” e prejudica a estratégia da direita, que desde 2023 trabalha para conquistar hegemonia no Senado com o objetivo de avançar pedidos de impeachment.
Estratégia da direita e o impacto nas eleições de 2026
O grupo político alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro tratava a eleição ao Senado como prioridade absoluta. A meta anunciada era eleger pelo menos um senador em cada um dos 27 estados, garantindo força suficiente para pressionar a Corte.
Com o novo quórum de 54 votos para admitir qualquer processo, a oposição precisaria conquistar praticamente toda a renovação de 2026 — e ainda garantir parte das cadeiras que só serão disputadas em 2030.
Hoje, a distribuição no Senado é a seguinte:
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Centro (PSD, MDB, PP, União, Podemos): 46 cadeiras
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Esquerda: 16 cadeiras
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Oposição declarada (PL, PSDB, Novo): 19 cadeiras
Ou seja: alcançar 54 votos pró-impeachment demandaria um resultado eleitoral extremamente improvável.
A renovação de 2026 e o panorama por estado
Em 2026, duas das três cadeiras de cada estado estarão em disputa — o que costuma provocar forte renovação. Em 2018, ano semelhante, 85% das vagas foram ocupadas por novos nomes.
Um levantamento do Bahia Notícias, com base nas pesquisas estaduais mais recentes, mostra como está a corrida para o Senado em cada região do país. O cenário ainda pode mudar até outubro de 2026, mas já revela tendências claras, como:
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Força da direita no Norte e Centro-Oeste
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Predomínio do PT e MDB no Nordeste
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Crescimento de nomes bolsonaristas no Sul e Sudeste
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Figuras consolidadas liderando em estados estratégicos, como Michelle Bolsonaro no DF e Flávio Bolsonaro no Rio
A matéria completa inclui todos os percentuais por estado, conforme os levantamentos mais recentes de institutos como Paraná Pesquisas, Real Time Big Data e Alfa Inteligência.
O que esperar daqui para frente
Com a decisão de Gilmar ainda pendente de análise definitiva no plenário do STF, as articulações políticas devem se intensificar. Partidos de direita e centro-direita seguem buscando candidaturas fortes, enquanto governistas apostam na manutenção da atual composição e na defesa da Corte.
O resultado das urnas em 2026 poderá redefinir o equilíbrio de forças no Senado — mas dificilmente abrirá espaço para uma onda de impeachments no Supremo, a não ser que uma ampla coalizão conservadora consiga superar a barreira dos 54 votos.
📰 Da Redação / Chapada em Foco
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